ANÁLISE DA INTELIGÊNCIA DE CRISTO

 

 

Existe uma coleção de livros comerciais chamada "Análise da inteligência de Cristo". Gostaria de opinar sobre as palavras "análise" e "inteligência", quando vinculadas a Jesus.

 

Uma minuciosa análise física de um corpo humano, por exemplo, conhecida como "autópsia", termina quando não há mais corpo: restam, apenas, órgãos, tecidos, ossos, etc. A minuciosa análise psicológica do homem Jesus, tal como apresentada nos referidos livros, também resulta no desaparecimento de algo; neste caso, de Sua divina mensagem. O Cristo deve, sim, ser vivenciado no coração, sem influência do intelecto: somente assim, Seus ensinamentos serão úteis para a evolução espiritual da alma e, consequentemente, de toda a humanidade. Analisar personalidade, palavras e atos de Jesus Cristo é um dos modismos vigentes, ofertado como infalível para a obtenção de sucesso profissional, vitória no mundo, alívio emocional, etc. Ele, no entanto, ensina que o importante é vencer o mundo, alcançar o alívio permanente ("Reino de Deus"), aquela Paz que definitivamente transcende todos os sucessos e sofrimentos da vida.

A análise apresentada nos referidos livros é, creio, inútil e até prejudicial, porque lança mais lenha sob o caldeirão mental, que não cansa de pensar/raciocinar/analisar/sonhar; que não nos dá descanso/paz, exceto quando é temporariamente apagado por sono (sem sonhos), desmaio ou anestesia geral. Quem está engajado na busca espiritual sabe: a agitação mental enfraquece o Espírito.

Sua análise, segundo o autor dos livros, baseia-se nos quatro Evangelhos do Novo Testamento, os quais são acessíveis a todos. Por que, então, conhecer Jesus através da opinião dos outros? Por que não ir diretamente à fonte? Para cada um, a melhor interpretação espiritual sempre é aquela que desperta em seu próprio coração, sem interferência intelectual. Mesmo as opiniões deste digitador são irrelevantes. Aquela coleção de livros e, também, o web-sítio "Os Destruidores de Ilusões", terão feito muito por seus leitores, se conseguirem incentivá-los a esquecer teorias de terceiros e buscar compreensão interior (Autoconhecimento).

 

Agora, sobre "inteligência". Por experiência própria, sei como este atributo do intelecto é venerado... todavia, acho que não deveria ser. Hoje percebo que ela é ruim, porque não existe inteligência humilde e sincera. A inteligência busca o seu próprio bem e, se isto eventualmente beneficiar o mundo, ótimo;  se, ao contrário, prejudicá-lo, paciência... Inteligência, na verdade, é um tipo de ignorância sofisticada; é o oposto de Sabedoria (OBS.1). Esta última, sim, é pura, humilde e sincera, exatamente como o Cristo. Jesus é um sábio, e é impossível um sábio ser inteligente, esperto, mau ou egoísta; portanto, podemos confiar Nele, sem restrições (OBS.2). Talvez, em alguns momentos, Ele pareça ser inteligente, segundo o padrão do mundo; mas, nunca demonstrou dar valor a este dom intelectual, pois Sua consciência pairava muito acima da inteligência, isto é: Ele era o senhor dela e, não, seu escravo. As pessoas que se acham inteligentes (como, infelizmente, este digitador) são dominadas pela inteligência, não conseguem abandoná-la, escapar de suas garras, porque ela é prazerosa, provoca muito orgulho. Porém, como Jesus de nada era escravo neste mundo, considero incorreto chamá-lo de inteligente. Se Ele venerasse a inteligência, Seus apóstolos teriam sido fariseus, "doutores da lei" e eruditos; no entanto, escolheu, para propagar a Verdade, gente simples/inculta/iletrada. Nunca encontrei qualquer sinal de "inteligência", nos Evangelhos do NT; percebo, tão somente, ensinamentos que não poderiam vir de homem mundano, Sabedoria divinamente inspirada...

 

Qual a utilidade prática, de insistir em que Jesus é o maior isto, é o melhor aquilo? São apenas palavras inteligentes, que entram por olhos/ouvidos e pouco depois são sufocadas pelas preocupações mundanas; não fincam raízes nos corações. Tais exercícios intelectuais dissipam energia interna e desviam a atenção do que realmente importa: a essência de Seus ensinamentos. Que não analisemos o Cristo, se pretendemos, um dia, conseguir compreender a profundidade de Sua mensagem e, finalmente, amá-Lo tanto e tanto, a ponto de seguirmos Seus passos e, assim como Ele, perder a vida, para encontrar a Vida (OBS.3).

É atitude desrespeitosa, ler qualquer livro sagrado com espírito analítico/científico. Os leiamos, apenas, quando estivermos com fome e sede por Verdade/Deus, com corações abertos e mentes calmas/receptivas; neste estado de espírito, os ensinamentos divinos, que têm Vida própria, farão todo o trabalho de semeadura e frutificarão, dentro de nós, no momento certo.

Finalizo lembrando as palavras de dois sábios desconhecidos:

"Nas Sagradas Escrituras devemos buscar a Verdade; não, a eloquência. Elas devem ser lidas com o mesmo espírito que as inspirou" (Imitação de Cristo).

"Para que serve todo o meu conhecimento? Vaidade, tudo é vaidade" (Eclesiastes).

 

 

OBS.1: Utilizo as palavras "Sabedoria" e "Autoconhecimento" para indicar as Verdades que recebemos diretamente da Fonte Divina, que existe em todos nós, sem intermediários. Ao saber que obtemos através do ego/mundo, chamo de "conhecimento". Neste texto é criticada a inteligência, como capacidade de acumular conhecimento e egoisticamente aplicá-lo.

 

OBS.2: Confiar Nele; não, naqueles que alardeiam representá-Lo. Os autênticos representantes do Cristo não fazem propaganda sobre isto.

 

OBS.3: Interpreto que as expressões "perder a vida" e "ressurreição dos mortos", usadas pelo Senhor Jesus, indicam a completa/radical reviravolta que nós, os "filhos pródigos", precisamos promover em nossas vidas, se aspiramos encontrar a verdadeira Vida ("Reino de Deus" ou Paz/Felicidade incondicionais), aqui e agora. É claro que outras interpretações são possíveis; acredito, porém, que estas nos estimulam ao esforço correto.

 

 

26/05/2014

 

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