PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO

 

 

Esta parábola está registrada no Evangelho de Lucas, capítulo 15.

Na primeira vez em que a li, no final do milênio passado, imediatamente me identifiquei com aquele filho insensato, que abandonou o Lar e caiu no mundo. Apesar de mencionada várias vezes nos textos aqui publicados, somente agora a mais bela e tocante entre todas as parábolas crísticas (na opinião deste digitador) ganhou espaço próprio na página "Os Destruidores de Ilusões". Não imagino remédio mais eficiente do que ela, para provocar o arrependimento capaz de fazer alguém dar meia-volta na vida e encarar, com coragem, a duríssima jornada de volta para Casa.

 

Certo homem tinha dois filhos. Um dia, o mais moço pediu-lhe a sua parte da herança, pois queria deixar a casa paterna e seguir seu caminho. O pai aceitou a decisão e dividiu seus bens entre eles. Juntando tudo o que lhe coube, o jovem partiu para terra distante, onde esbanjou sua riqueza em uma vida dissoluta. Depois de ficar na indigência, foi obrigado a aceitar os mais humilhantes trabalhos, apenas para conseguir comida suficiente para sobreviver. Aí, pensou: "Até mesmo os trabalhadores de meu pai têm alimento em fartura, enquanto estou aqui morrendo de fome!". Arrependido por seus erros, decidiu voltar para casa e dizer a seu pai: "Pai, pequei contra os céus e contra ti; já não sou digno de ser chamado de teu filho: trata-me somente como um de teus empregados". Então, pôs-se a caminho. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e, compadecido, correu ao seu encontro e o abraçou e beijou. E o filho lhe disse: "Pai, não mereço que me chames de filho". O pai, porém, ordenou aos criados: "Vesti-o com a melhor roupa da casa; ponde anéis em seus dedos e sandálias em seus pés. Festejaremos com um grande banquete, porque este meu filho estava perdido e achou-se; estava morto e renasceu".

Enquanto isto acontecia, o filho mais velho tinha acabado o trabalho diário nos campos e voltava para casa. Ao chegar, ouviu música e viu gente dançando e comendo à vontade. Perguntou a um dos criados o que se passava e este lhe contou. Indignado, desabafou com o pai: "Sempre fui fiel a ti, sem jamais transgredir tuas ordens; mas, nunca fizeste uma festa para mim. Agora, chega este teu filho, que te abandonou e desperdiçou tua riqueza com meretrizes, e fazes uma festança para ele". Respondeu-lhe o pai: "Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que tenho é teu; porém, é certo comemorarmos: teu irmão estava perdido e encontrou-se; estava morto e reviveu".

 

Palavras como "herança", "casa", "riqueza", "alimento", "fome", "trabalho", "morto", "festa" e outras, não devem ser interpretadas literalmente. Então, podemos perceber que esta parábola é um resumo singelo e perfeito do drama/mistério da Criação; da jornada evolutiva do homem, por toda a Existência. Ela ensina que o Pai Celeste concedeu livre-arbítrio a Seus filhos (todos nós) para tomarem decisões, mas não o poder para escapar de suas consequências (destino); ensina que não estamos "em casa", mesmo se moramos em imóvel próprio, quitado; ensina que temos que nos esforçar, para caminhar de volta (evoluir), para vencer o amargo destino que criamos para nós mesmos; ensina que estamos mortos (para a VIDA), embora pareçamos vivos; ensina que o Pai perdoa os pecados daqueles que sinceramente se arrependem; ensina que o universo inteiro comemora, quando um de nós "renasce" e retorna para o Lar (Reino de Deus)... Há muitas lições práticas, ocultas na sutileza da narrativa, e elas vão desvelando-se aos poucos: basta ler a parábola frequentemente, sempre com espírito de humildade.

A interpretação literal deve ser rejeitada, ou então desperdiçaremos tempo e energia, peregrinando por terras e céus, tentando encontrar a casa do Pai Celeste. Lembremo-nos, sempre, do ensinamento mais importante revelado para a humanidade, que foi magnificamente sintetizado pelo Grande Instrutor; aquele com o poder de demolir as terras e os céus, quando compreendido pelo Coração: "O Reino de Deus não virá de um mundo exterior, em tempo futuro; O REINO DE DEUS ESTÁ DENTRO DE VÓS". A compreensão intuitiva deste ensinamento supremo lança o homem no caminho da Libertação/Salvação (Paz e Felicidade); todavia, continua sendo ignorado e/ou deturpado, porque preferimos continuar escravizados ao próprio ego e aos egos dos "guias cegos", dos "lobos devoradores", daqueles que "não entram no Reino de Deus e também não deixam ninguém entrar".

 

Peço licença para interromper o assunto, antes de finalizar o texto. Ao mencionar, no parágrafo anterior, aqueles que não só não ajudam, mas também atrapalham, me lembrei de um sítio da internet e do templo de Jerusalém na época de Jesus, cercado por mercadores ambulantes. Tal site proclama a unidade entre os homens e se intitula "o maior portal de autoconhecimento e espiritualidade da América Latina". Contudo, navegando por ele, encontramos nada que estimule a interiorização/calma da mente, pré-requisito indispensável na busca do autoconhecimento e da espiritualidade. Muito pelo contrário, o que lá se encontra é excitação/lixo mental, jogatina, gente comprando e vendendo: lobos disfarçados de cordeiros, exatamente como ocorria no templo judaico. A atual hipocrisia, porém, vai mais longe: se realmente acreditassem que "somos todos um", como poderiam comprar e vender? Por acaso, "eu" compraria de "mim" mesmo, ou venderia para "mim" mesmo? Se este fosse um mundo de Unidade (UM), haveria lugar para dois: comprador e vendedor? Devem existir muitos outros web sites como este, manipulando os ensinamentos sagrados em proveito próprio; mas, isto é da alçada deles. Como cada um paga por seus erros e nunca pelos erros dos outros, basta que os ignoremos e prossigamos em frente, sem nos desviar da meta. Nada podemos fazer pelos outros internautas, pois cada um está destinado a encontrar exatamente o mestre/guia que merece. Somente um Cristo tem autoridade para quebrar as bancas dos camelôs/comerciantes de religiosidade, que aproveitam-se das fraquezas do povo.

 

Finalizando o texto...

Caro(a) buscador(a): já erramos demais, já sofremos demais neste mundo sem Deus, que não é nossa Casa. Aqui somos estrangeiros, explorados pelo senhor da terra e adversário da VIDA. Há muito e muito tempo ele nos dá apenas migalhas e com migalhas temos nos contentado, por muito e muito tempo... Quando teremos coragem de abandonar tudo isto e iniciar a gloriosa caminhada de volta para o Pai, assim como fez o filho pródigo?

 

   

Senhor: faz de mim um instrumento de Tua Paz.

 

24/10/2010

 

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