A ILUSÃO

 

 

Compreendi aquilo que os hindus chamam de "ilusão cósmica" ("maya") através de um simples bem-te-vi, que durante alguns dias frequentou a varanda do apartamento onde moro. Observando-o, notei que ele tinha um grande inimigo: a ilusão. Como estão recobertos por películas espelhadas, os vidros da porta e da janela voltadas para a varanda, o pássaro via o próprio reflexo e acreditava estar diante de um invasor do território que ele decidiu lhe pertencer. Então, eriçava as penas e executava uma dança de guerra; mas, como o "adversário" fazia o mesmo, o iludido acabava sendo obrigado a atacar o objeto de sua ilusão, isto é, atirava-se contra o vidro. Depois, parava um pouco, tentando entender o que ocorreu, e, após um tempo, repetia o ataque. Assim o bem-te-vi se comportou, até desistir e desaparecer.

Dia a dia, antes de sair para trabalhar, acompanhei com solidariedade aquelas batalhas inúteis. Me senti solidário, pois percebi que o ser humano comete o mesmo erro, que tantos sofrimentos provocam. Identificamos inimigos em toda parte, prontos para tomarem as coisas que achamos nos pertencer (bens materiais, familiares, a própria vida, etc.); na verdade, porém, inimigo nenhum existe: todo o mal que acreditamos existir, no mundo, é apenas um reflexo de nós mesmos ("ego" ou "mal interior"), no espelho da mente individual.

Há duas soluções, para o caso: [1] retirar o espelho mental, que nos induz à ilusão (método espiritual direto ou autoconhecimento); [2] deixar de acreditar que somos possuidores de qualquer coisa, inclusive da própria vida; assim, nada temeríamos, pois nada teríamos, e ninguém, deste ou de qualquer outro tipo de mundo, pode tirar algo de quem nada tem (método espiritual indireto ou devoção). Sendo bem-sucedida no método escolhido, finalmente a alma se estabelece na PAZ eterna e incondicional ("Reino de Deus"), aquela que todos almejam alcançar...

 

 

29/10/2015

 

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