PARÁBOLA DA LIMPEZA

 

 

Na véspera de uma visita ilustre tratamos de limpar/arrumar a casa, de forma que esteja à altura do visitante. Se assim não fizermos, correremos o risco de presenciar o mesmo dar meia volta ainda à porta de entrada, indignado com o nosso desleixo...

Semelhantemente, o mais ilustre entre todos os ilustres está sempre tentando visitar (e morar definitivamente em) nossos corações; mas, ao deparar-se com a falta de limpeza que há neles, não entra e, mais uma vez, adiamos o fim do próprio sofrimento.

 

Este texto complementa o anterior ("O que sempre está lá") e a aparente contradição entre eles é apenas um artifício para adaptar, o ensinamento espiritual, ao nível atual de compreensão de cada leitor.

Na fase de compreensão básica, há um Deus que mora em lugar distante, chamado "céu", se parece com os homens, pensa como os homens, e, lá de cima, monitora a vida dos homens. Então, para agradá-lo, merecermos sua graça e escaparmos de sua ira, devemos seguir as regras das igrejas, que dizem o conhecer bem: frequentar missas/cultos, pagar dízimos, rezar diariamente, etc. Deus é o temível Todo-Poderoso e, o homem, uma pobre criatura que nunca estará à altura de seu Criador.

Na fase espiritual seguinte, percebe-se que não há injustiças na Existência, pois cada um é o único culpado por seu sofrimento: "injustiça divina" é apenas a incompreensão da Justiça Divina, sempre correta e piedosa. Agora, Deus não está mais lá longe, mas sim aqui bem pertinho, em meio ao caos de nossos pensamentos, pacientemente aguardando o convite para entrar nos corações, desde que estejam limpos de todo o egoísmo. Não há mais necessidade de intermediários, entre o Criador e Sua criatura, e Ele é o Todo-Bondoso "Pai Celeste" (ou a mui amada "Mãe Divina").

Na próxima fase de compreensão, obtemos a inabalável certeza interior de que o Altíssimo nunca esteve, um segundo sequer, fora de todos os corações: Ele é nosso mais íntimo companheiro, a força que nos mantêm vivos. Pode ser comparado ao Sol, que nem por instante deixa de iluminar a Terra, embora muitas vezes possa não ser percebido, por causa de nuvens pesadas que tomam todo o céu. Sem o Sol, não haveria, neste planeta, aquilo que chamamos de vida. Mas, Se Deus está dentro de nós, por que não O percebemos? Segundo os Sábios, porque não paramos de pensar em nós mesmos, em nossos males, necessidades e desejos. Não O percebemos porque não resfriamos o caldeirão mental: a máquina pensante é equivalente às nuvens pesadas, que escondem o Sol ("Onde o movimento [mental] cessa, Deus começa" - Yogananda; "Aquieta-te [mentalmente] e saberás que Eu sou Deus" - Salmo 46). Não O percebemos porque ainda não fizemos a limpeza total de nossos próprios corações e mentes, ainda não aprendemos a pensar pouco e corretamente. Esta proximidade, entre o Criador e Suas criaturas, é o ponto culminante no caminho da Dualidade.

A última fase da evolução espiritual, a Unicidade, apenas quem lá chegou a conhece, isto garante a sabedoria sagrada. Jesus assim a descreveu: "Eu e o Pai somos UM".

Portanto, cada um dos ensinamentos (dualistas) acima é certo e válido, na correspondente etapa evolutiva, e a meta é a mesma: o "Reino de Deus", o "Nirvana", aqui e agora.

 

 

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21/11/2019

 

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