Precioso texto que encontrei na web, recentemente; com certeza, fonte de inspiração e força para os sinceros buscadores. Transbordante de Vida, deve ser lido várias vezes, sempre com humildade e disposição mental meditativa.

No início da primeira leitura, os ensinamentos do Mestre me fizeram abaixar a cabeça, envergonhado, pois já obtive a confirmação interior das verdades ensinadas por Ele, mas prossigo no caminho errado. Minha situação prova que apenas saber o que é a Verdade não liberta ninguém da ignorância: é indispensável torná-La parte de nós mesmos, impregnar nossos pensamentos, palavras e atos, com Ela. No entanto, ao final do texto, percebi nova disposição para prosseguir com a monumental obra de corrigir a mim mesmo, vencer a guerra interior, nascer de novo ainda nesta vida...

Agradeço-Te, Senhor, por teres piedade desta alma, colocando em seu caminho, na hora certa, o auxílio que se faz necessário.

 

 

01/08/2007

 

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AOS PÉS DO MESTRE

 

 

Minhas não são estas palavras e sim do Mestre que me instruiu. Sem Ele, eu nada poderia ter feito; porém, com o Seu auxílio, comecei a trilhar a Senda. Tu queres também entrar na mesma Senda e, por isso, as palavras que Ele me dirigiu te auxiliarão, se as obedeceres. Não basta dizer que são verdadeiras e belas; para obter êxito, é necessário fazer exatamente o que é ensinado. Olhar para o alimento e dizer que é bom, não satisfaz um faminto; deve-se estender a mão e comê-lo. Da mesma forma, não basta ouvir as palavras do Mestre; é preciso fazer o que Ele diz, atento à menor palavra, ao menor sinal, pois, se uma indicação não for seguida, se uma palavra for desprezada, perdidas ficarão para sempre, porque o Mestre não fala duas vezes.

 

Quatro são as qualidades necessárias para a Senda:

I – Discernimento.

II – Ausência de desejos (desapego, abnegação).

III – Boa conduta.

IV – Amor.

Tentarei dizer-te o que, sobre cada uma delas, o Mestre me ensinou.

 

I – DISCERNIMENTO

 

A primeira dessas qualidades é o Discernimento, tomado no sentido da distinção entre o Real (absoluto) e o irreal (relativo), e que conduz o homem para a Senda. É isto, mas é muito mais ainda, e deve ser praticado, não somente no começo da Senda, porém a cada passo que nela diariamente se dá, até o fim. Entraste para a Senda porque aprendeste que somente nela se podem encontrar as coisas dignas de aquisição. Os homens que não sabem, trabalham para adquirir a riqueza e o poder, porém estes bens são, quando muito, para uma vida somente e, portanto, irreais. Há coisas maiores do que essas, coisas reais e duradouras; quando as tiveres visto uma vez, não mais desejarás as outras.

Em todo o mundo há somente duas espécies de pessoas: as que sabem e as que não sabem, e o conhecimento espiritual é o que importa possuir. A religião de um homem, a raça a que pertence, não são coisas de importância; o que é realmente importante é o conhecimento do Plano de Deus em relação aos homens. Sim, Deus tem um plano e esse plano é a Evolução; quando o homem o tiver visto e, realmente, o conhecer, não poderá deixar de cooperar, unificando-se com ele, tal a sua glória e beleza. Assim, pelo fato de possuir o conhecimento, ele está ao lado de Deus, firme no bem e resistente ao mal, trabalhando pela evolução e não com fins pessoais.

Se está ao lado de Deus, é um dos nossos, não importando que ele seja hinduísta, budista, cristão ou maometano. Aqueles que estão ao lado de Deus sabem por que aí se acham, sabem o que têm a fazer e tentam cumpri-lo; todos os demais não sabem ainda o que têm a fazer e, por isso, frequentemente agem de modo insensato, imaginando caminhos para si próprios, os quais lhes parecem agradáveis, não compreendendo que todos são um e que, portanto, só aquilo que o Uno quer é correto para todos. Seguem o irreal ao invés do Real e, enquanto não aprendem a distinguir entre ambos, não se colocam ao lado de Deus. Eis por que o Discernimento é o primeiro passo a dar.

Todavia, mesmo depois de feita a escolha, deves lembrar-te de que no Real (Verdade) e no irreal há muitas variantes e o discernimento deve ainda ser usado, para a distinção entre o bem e o mal, o importante e o não importante, o útil e o inútil, o verdadeiro e o falso, o egoísta e o altruísta. Aqueles que desejam seguir o Mestre já se decidiram a seguir o bem a todo custo; porém, o homem e o seu corpo são dois, e a vontade do homem nem sempre está de acordo com a do corpo. Quando o teu corpo desejar alguma coisa, pára e considera se tu queres apenas o que Deus quer, ou aquilo que o corpo quer; necessitas, porém, penetrar fundo em ti mesmo, para em teu interior encontrares Deus e ouvir a Sua voz, que é a tua.

Não confundas os teus corpos contigo mesmo: nem o corpo físico, nem o astral, nem o mental; revezando-se, eles se apresentam como o ego, a fim de obter o que desejam. Precisas, porém, conhecê-los a todos e conhecer-te a ti mesmo, teu Eu Real, como o possuidor deles.

Quando há um trabalho para fazer, é quando o corpo físico quer descansar, passear, comer e beber; o homem que não conhece a si mesmo, pensa: "eu quero fazer estas coisas agradáveis e preciso fazê-las". Porém, o homem que sabe, afirma: "Quem quer descansar ou divertir-se não sou Eu; portanto, vamos ao trabalho". Frequentemente, quando há oportunidade de auxiliar alguém, o corpo insinua: "Que aborrecimento isto me trará! Deixemos que outro qualquer tome o meu lugar". Porém, o homem que sabe lhe replica: "Tu não me impedirás de praticar uma boa ação".

O corpo físico é teu animal, o cavalo que montas. Deves, portanto, cuidar dele, não o estafar, alimentá-lo convenientemente, com alimentos e bebidas puros, e mantê-lo limpo, sem vestígios de impurezas; pois que, sem um corpo puro e saudável, não podes efetuar a árdua tarefa da preparação, nem suportar-lhe os incessantes esforços. Deves, porém, ser sempre tu quem o domine, e não ele que domine a ti.

O corpo astral (emoções e sentimentos) tem seus desejos, e os tem às dúzias; há de querer ver-te encolerizado, ouvir-te dizer palavras ásperas, que sintas ciúmes, que sejas ávido por dinheiro, que invejes os bens alheios e cedas ao desânimo. Quererá todas essas coisas e muitas outras mais, não para prejudicar-te, mas porque lhe aprazem as vibrações violentas e gosta de mudá-las continuamente. Teu Eu Real, porém, não deseja nenhuma destas coisas e, portanto, deves distinguir os teus objetivos altruístas, dos desejos de teu corpo astral.

O teu corpo mental (intelecto) deseja manter-se orgulhosamente separado do Uno; quererá que penses muito em ti mesmo e pouco nos outros. Mesmo quando consegues desviá-lo das coisas mundanas, ele tentará voltar a pensar em ti próprio, no teu progresso pessoal, em lugar de pensares na obra do Mestre e em auxiliar desinteressadamente os outros. Quando meditares, tentará fazer-te pensar nas diferentes coisas que ele quer, em vez de na única coisa que o teu Eu Real necessita. Não és esse corpo mental, mas dele dispões para o teu uso; assim, mesmo aqui, o discernimento é necessário. Deves vigiar incessantemente a tua mente, sob pena de retardares o teu progresso espiritual.

Custe o que custar, deves fazer o bem e nunca o mal, não importando o que te aconselhem aqueles que não estão na Senda. Compreende profundamente as leis sutis da Natureza e organiza a tua vida de acordo com elas, utilizando sempre a razão e o bom senso.

Deves discernir entre o que é importante e o que não é. Firme como uma rocha em tudo que concerne ao Real, cede aos outros, porém, nas coisas irrelevantes da vida, pois deves ser sempre amável, bondoso, razoável e condescendente, deixando aos teus semelhantes a mesma plena liberdade que para ti necessitas.

Procura verificar o que vale a pena ser feito e lembra-te que as coisas não devem ser julgadas pela sua grandeza aparente. Uma pequena coisa, de utilidade imediata à obra do Mestre (Deus Encarnado), merece muito mais ser feita, do que uma grande coisa que o mundo considera boa. Precisas distinguir não somente o útil do inútil, mas ainda o mais útil do menos útil. Alimentar os pobres é uma boa obra, nobre e útil; porém, alimentar-lhes as almas é ainda mais nobre e mais útil.

Por muito sábio que já sejas, muito terás ainda que aprender na Senda; precisas discernir e meditar cuidadosamente sobre o que deve ser aprendido. Todo o conhecimento espiritual é útil e um dia o possuirás integralmente; enquanto, porém, só possuíres parte dele, cuida que essa parte seja a mais útil. Deus tanto é Sabedoria como Amor e, quanto mais sábio fores, mais Ele se manifestará por teu intermédio. Aprende, pois, mas aprende em primeiro lugar o que mais te habilite a auxiliar aos outros. Trabalha pacientemente para adquirir Sabedoria, não para que os homens te julguem sábio, nem mesmo para gozares a felicidade de ser sábio, mas sim porque o sábio pode ser sabiamente útil. Por mais que desejes prestar auxílio ao mundo, enquanto fores ignorante poderás provocar mais mal do que bem.

Precisas distinguir entre a Verdade e a mentira; deves aprender a ser verdadeiro em tudo: no pensamento, na palavra e na ação. Primeiro, no pensamento, e isto não é fácil, porque há no mundo muitos pensamentos falsos, muitas superstições insensatas e ninguém que a eles se escravize poderá progredir. Por conseguinte, não deves aceitar uma opinião, simplesmente porque muitas pessoas a aceitam, nem por ter merecido crédito durante séculos, nem por constar em algum livro que os homens julguem sagrado; deves pensar por ti mesmo sobre a questão, e por ti mesmo ajuizar se ela é correta. Lembra-te que, embora mil homens possam concordar sobre um assunto, se nada conhecerem a respeito, a opinião deles não tem valor. Aquele que quiser avançar na Senda tem que aprender a pensar por si mesmo, pois a superstição é um dos maiores males do mundo e um dos empecilhos do qual te deves libertar inteiramente.

O teu pensamento acerca dos outros não deve ser malicioso; não penses a respeito do teu próximo aquilo que não saibas. Não suponhas que os outros estejam sempre pensando em ti. Se um homem faz alguma coisa que julgas poder prejudicar-te, ou diz algo que parece ser dirigido a ti, não suponhas imediatamente: “ele pretende ofender-me”. O mais provável é que ele nunca tenha pensado em ti, pois cada alma tem as suas próprias preocupações e os pensamentos dela giram, invariavelmente, em torno de si mesma. Se um homem te falar colericamente, não penses: “Ele me odeia e quer ferir-me.” Provavelmente, alguém ou alguma coisa o encolerizou e, acontecendo encontrar-te, voltou a sua cólera sobre ti. Ele procede insensatamente, pois toda a cólera é insensata, mas nem por isso deves pensar maldosamente a seu respeito.

Quando te tornares discípulo do Mestre, poderás sempre averiguar a veracidade do teu pensamento, comparando-o com o Dele, pois o discípulo é um com seu Mestre e basta-lhe fazer retroceder o seu pensamento até ao do Mestre, para verificar se ambos estão de acordo. Se não estiver, o pensamento do discípulo é errôneo e ele deve esforçar-se para modificá-lo, pois o pensamento do Mestre é perfeito, visto que Ele tudo sabe. Aqueles que por Ele ainda não foram aceitos como discípulos, não podem fazer isto perfeitamente; porém, mesmo assim serão grandemente ajudados se frequentemente se detiverem a perguntar: “Que pensaria o Mestre a este respeito? Que faria ou diria Ele em tais circunstâncias?”. Nunca deves fazer, dizer, ou pensar, o que não possas imaginar que o Mestre faça, diga, ou pense.

Deves também ser verdadeiro no falar, exato e sem exageros. Nunca atribuas más intenções a outrem, pois ele bem pode estar agindo por motivos que nunca penetraram em tua mente. Se ouvires uma narrativa contra alguém, não a repitas; pode não ser verdadeira; e, ainda que o seja, é mais bondoso nada dizer. Pensa bem antes de falar, a fim de não caíres em inexatidões.

Sê verdadeiro na ação; nunca pretendas parecer aquilo que não és, pois todo fingimento constitui um obstáculo à pura luz da Verdade, que deve brilhar através de ti como a luz do Sol através de um vidro transparente.

Precisas discernir entre o egoísmo e o altruísmo, pois o egoísmo reveste-se de muitas formas e, quando pensas tê-lo finalmente morto numa delas, ele surge noutra, tão forte como sempre. Porém, gradualmente, o pensamento de auxiliar aos outros te encherá de tal modo, que não haverá lugar nem tempo para pensares em ti mesmo.

De outra maneira ainda deves utilizar o discernimento: aprende a distinguir a Deus que está em todos e em tudo, por pior que julgues a aparência exterior. Podes ajudar o teu próximo, através do que tens de comum com ele: a Vida Divina. Aprende a despertar nele essa Vida, aprende a invocá-La nele; assim, o salvarás do mal.

 

 

II – AUSÊNCIA DE DESEJOS

 

Há muitas pessoas para quem a ausência de desejos (abnegação, desapego) é difícil, por pensarem que os seus desejos são elas próprias, e que, se esses desejos, simpatias e antipatias lhes forem tirados, nada mais lhes restará. Essas, porém, são somente as pessoas que ainda não viram o Mestre; à luz de Sua Santa Presença, todo desejo sucumbe, exceto o de se assemelhar a Ele. No entanto, antes mesmo de teres a ventura de encontrá-Lo face a face, podes conquistar a ausência de desejo, se o quiseres. O discernimento já te demonstrou que as coisas que os homens mais desejam, tais como riqueza e poder, não merecem o trabalho de ser possuídas; quando isto realmente é sentido, e não apenas enunciado, cessa todo o desejo por elas. Há, porém, algumas pessoas que recusam-se a prosseguir com seus objetivos terrenos, somente no intuito de alcançar o céu, ou para atingir a libertação pessoal dos renascimentos. Não deves cair neste erro. Se realmente tiveres esquecido completamente de ti mesmo, não podes te preocupar com a época da libertação da tua alma ou com a espécie de céu para onde irás. Lembra-te que todo desejo egoísta é um obstáculo e, mesmo sendo elevado, enquanto dele te não desembaraçares, não estarás completamente livre para te devotar à obra do Mestre.

Quando tiverem desaparecido os desejos mundanos, poderá ainda restar aquele de apreciares o resultado do teu trabalho. Se auxiliares alguém, quererás saber até que ponto o tens ajudado; talvez mesmo queiras que ele se mostre grato a ti. Isto, porém, é ainda desejo egoísta e também prova de ignorância. Quando aplicares a tua energia para auxiliar alguém, há de advir daí um resultado, quer possas vê-lo ou não; se conheces a Lei do Carma, sabes que deve ser assim. Precisas, pois, fazer o bem por amor ao Bem, e não com a esperança da recompensa. Trabalha por amor ao trabalho e não para ver o resultado; deves entregar-te ao serviço do mundo porque o amas e não podes deixar de fazê-lo.

Não desejes os poderes psíquicos; eles virão quando o Mestre achar que melhor te será possuí-los. Forçá-los muito cedo traz consigo muitas perturbações; frequentemente o seu possuidor é desencaminhado, tornando-se vaidoso, e se julga isento de cair em erro; além disso, o tempo e a força necessários para adquiri-los poderiam ser gastos em trabalhar para os outros. Eles virão no decurso do teu desenvolvimento, mas, se o Mestre entender que te será útil possuí-los mais cedo, te ensinará como desenvolvê-los com segurança. Até lá, melhor será para ti não possuí-los.

Deves precaver-te, também, contra certos pequenos desejos comuns na vida diária. Nunca desejes sobressair-te e nem parecer instruído.  Não desejes falar, pois é bom falar pouco; melhor ainda é nada dizer, a não ser que estejas seguro de que o que pretendes dizer é verdadeiro, amável e útil. Antes de falar, pensa cuidadosamente se o que pretendes dizer preenche essas três qualidades; se assim não for, não o digas. É bom que te habitues desde agora a refletir cuidadosamente antes de falar, pois na Senda terás de vigiar cada palavra, a fim de não dizeres o que não deve ser dito. A maioria das conversações mundanas são desnecessárias e insensatas e, quando chegam à maledicência, tornam-se perversas. Assim, acostuma-te antes a ouvir, do que a falar; não emitas opinião senão quando diretamente solicitada.

Um desejo vulgar que deves severamente reprimir é o de te imiscuíres nos negócios dos outros. O que um homem faz, diz ou crê, não é de tua conta e precisas aprender a deixá-lo absolutamente entregue a si próprio. Ele tem pleno direito à liberdade de pensamento, palavra e ação, até ao ponto em que não interfira no que concerne a outrem. Tu próprio reclamas a liberdade de fazer o que julgas bom; portanto, deves outorgar a mesma liberdade aos outros e, quando a usarem, não tens o direito de te pronunciares a respeito.

Se julgas estar alguém fazendo o mal e encontras uma oportunidade de lho dizer em particular e muito delicadamente, por que assim pensas, talvez consigas convencê-lo; porém, em muitos casos, isto mesmo não passaria de uma interferência indébita. De modo algum deverás murmurar com uma terceira pessoa sobre o assunto, pois isso seria uma ação extremamente má. Se observares um caso de crueldade para com uma criança ou um animal, é teu dever intervir. Se estiveres incumbido de instruir uma outra pessoa, pode tornar-se teu dever adverti-la suavemente de suas falhas. Exceto em tais casos, ocupa-te de teus próprios negócios e aprende a virtude do silêncio.

 

 

III – BOA CONDUTA

 

Os seis pontos sobre a conduta, especialmente exigidos pelo Mestre, são:

1. Domínio da Mente

2. Domínio da Ação

3. Tolerância

4. Contentamento

5. Perseverança (Disciplina)

6. Confiança

Sei que algumas dessas qualidades são frequentemente expressas de modo diferente; porém, em todo caso, usei as designações que o próprio Mestre empregou ao explicá-las.

 

1. Domínio da Mente

A qualidade da ausência do desejo mostra que o corpo astral (sentimentos) precisa ser dominado; o mesmo acontece em relação ao corpo mental. Isto significa domínio do temperamento, de modo a não sentires cólera ou impaciência; domínio da própria mente, a fim de que o pensamento seja sempre calmo e sereno e, através da mente, o domínio dos nervos, a fim de que sejam o menos irritáveis possível. Este último objetivo é difícil de atingir, porque, quando tentas preparar-te para a Senda, não podes evitar que o teu corpo torne-se mais sensitivo; de sorte que os teus nervos podem ser facilmente abalados por um som ou um choque, e sentir de modo agudo qualquer pressão. Faz, porém, o melhor que te for possível.

A mente calma implica, também, coragem, a fim de afrontares sem medo as provas e dificuldades da Senda; implica, outrossim, firmeza, para suportares as pequenas perturbações inerentes à vida diária e evitar os aborrecimentos incessantes, oriundos de pequenas coisas em que muita gente consome a maior parte do seu tempo. O Mestre ensina que não tem a menor importância o que ao homem acontece exteriormente; tristezas, perturbações, doenças, perdas: tudo isso deve ser insignificante para ele e não deve permitir que lhe afetem a calma mental. As tribulações atuais são o resultado das ações passadas e, quando chegam, devem ser suportadas alegremente, com a lembrança de que todo mal é transitório e que é teu dever permanecer sempre contente e sereno; são consequências de tuas vidas anteriores e não desta. Como não podes alterá-las, é inútil que com elas te preocupes. Pensa antes no que estás agora fazendo e que determinará os acontecimentos de tua próxima vida, pois essa sim tens poder para modificar.

Não cedas nunca à tristeza e ao desalento. O desalento é mau, porque contamina os outros e torna as suas vidas mais difíceis, o que não tens o direito de fazer. Portanto, sempre que esse sentimento vier a ti, deves repeli-lo imediatamente.

Deves ainda dominar o teu pensamento de outro modo: não o deixes vaguear. Fixa o teu pensamento naquilo que estiveres fazendo, a fim de que seja feito com perfeição; não deixes a tua mente ociosa, porém mantém sempre bons pensamentos em reserva, prontos a avançar quando ela estiver livre. Emprega, diariamente, o poder do teu pensamento em bons propósitos; sê uma força orientada para a evolução. Pensa cada dia em alguém que saibas estar imerso na tristeza e no sofrimento, ou necessitando de auxílio e derrama sobre ele teus pensamentos de amor.

Preserva a tua mente do orgulho, porque o orgulho provém somente da ignorância. O homem que não sabe, pensa ser grande por ter feito alguma grande coisa; mas o homem sábio compreende que só Deus é grande e que toda boa obra é feita só por Ele.

 

2. Domínio da Ação

Se o teu pensamento for o correto, encontrarás pouca dificuldade na ação. Lembra-te que para ser útil à humanidade, o pensamento deve traduzir-se em ação. Nada de indolência, mas uma constante atividade no trabalho útil. Deves, porém, cumprir o teu próprio dever e não o de outrem, a não ser com a devida permissão do interessado e no intuito sempre de ajudá-lo. Deixa que cada homem execute o seu trabalho a seu modo; mantém-te sempre pronto a oferecer auxílio onde ele for necessário, porém nunca te intrometas. Para muita gente a coisa mais difícil deste mundo é aprender a ocupar-se de seus próprios negócios; é, porém, isto exatamente o que deves fazer.

Pelo fato de empreenderes um trabalho de ordem superior, não deves esquecer os teus deveres comuns, pois enquanto os não cumprires, não estarás livre para outro serviço. Não tomes sobre ti novos deveres para com o mundo; porém, daqueles que já te encarregaste, desempenha-os perfeitamente (os deveres definidos e razoáveis, que tu próprio reconheces, e não os deveres imaginários, que porventura alguém pretenda impor-te). Se queres pertencer ao Mestre, deves executar o teu trabalho comum, melhor e não pior do que os outros, porque deves fazê-lo por Amor a Ele.

 

3. Tolerância

Deves sentir perfeita tolerância por todos e pelas crenças dos de outras religião, tanto quanto pelas tuas próprias. Pois a religião dos outros é um Caminho para o Supremo, da mesma forma que a tua. E, para auxiliar a todos, é preciso tudo compreender; mas, a fim de alcançares esta perfeita tolerância, deves tu próprio, em primeiro lugar, libertar-te da superstição e da beatice. Precisas aprender que não há cerimônias indispensáveis; de outro modo te suporias um pouco melhor do que aqueles que não as cumprem. Não condenes, porém, os que ainda se apegam às cerimônias. Deixa-os fazer o que lhes aprouver, contanto que se não intrometam no que concerne a ti, que conheces a Verdade, pois não devem tentar forçar-te àquilo que já ultrapassaste. Sê indulgente com todos, sê benévolo em tudo.

Agora que os teus olhos foram abertos, algumas das tuas antigas crenças e cerimônias podem parecer-te absurdas; talvez, na realidade, o sejam. Apesar, porém, de não poderes mais tomar parte nelas, respeita-as por amor às boas almas para quem elas são ainda importantes e para as quais ainda têm o seu lugar e a sua utilidade. Assemelham-se às duplas linhas do caderno de caligrafia que, quando criança, te guiavam para escrever em linha reta e na mesma altura, até que aprendeste a escrever muito melhor e mais livremente sem elas. Houve tempo em que delas necessitaste; esse tempo, porém, já passou.

Um grande Instrutor escreveu certa vez: “Quando eu era criança, falava como criança, entendia como criança; porém, quando me tornei homem, abandonei os modos infantis”. No entanto, aquele que esqueceu a sua infância e perdeu a simpatia pelas crianças, não é o homem que as possa instruir e ajudar. Assim, olha a todos com bondade, gentileza e tolerância; porém, da mesma forma, quer sejam budistas, judeus, cristãos ou maometanos.

 

4. Contentamento

Deves suportar o teu carma (destino) pacientemente e, por mais duro que seja ele, mostra-te agradecido por não ser ainda pior. Lembra-te que de muito pouca utilidade terás para o Mestre, enquanto o teu mau carma não for esgotado e não estiveres livre. Oferecendo-te a Ele, o teu carma é acelerado e, assim, em uma ou duas vidas esgotas aquilo que, de outro modo, exigiria uma centena delas; contudo, para maior proveito espiritual, deves suportá-lo alegremente.

Há outro ponto de importância: abandona todo sentimento de posse. O carma pode arrebatar-te aquilo de que mais gostas, mesmo as pessoas que mais amas. Ainda assim deves ficar contente e estar sempre pronto para separar-te de tudo e de todos. Frequentemente, o Mestre necessita transmitir Sua força a outros através de Seus discípulos; Ele não o poderá fazer, se estes cedem ao desânimo. Assim, o contentamento é indispensável.

 

5. Perseverança

A coisa única que deves manter sempre presente, em tua mente, é a obra do Mestre. Qualquer outra coisa que surja em teu caminho, não te deve fazê-lo esquecer disso. Na verdade, nenhuma outra coisa poderá surgir diante de ti, pois todo trabalho útil e desinteressado é trabalho do Mestre e tu deves executá-lo por amor a Ele. Precisas dedicar-lhe toda a tua atenção, para que faças o melhor possível. O mesmo Instrutor escreveu também: “O que quer que faças, faze-o de boa vontade, como sendo para o Senhor e não para os homens”. Pensa como executarias um trabalho se soubesses que o Mestre viria vê-lo imediatamente; é justamente com esse pensamento que deves tudo executar. Aqueles que sabem, melhor compreenderão o significado desde versículo. Há um outro semelhante, porém muito mais antigo: “Em tudo o que a tua mão fizer, aplica toda a tua força”.

Perseverança significa, também, que nada deverá afastar-te por um momento sequer da Senda em que entraste. Nem tentações, nem os prazeres do mundo, nem as afeições mundanas devem jamais desviar-te. Tu mesmo deves unificar-te com a Senda; ela deve tornar-se de tal modo parte da tua própria natureza, que a percorras sem nisso teres que pensar e sem te desviares.

 

6. Confiança

Deves confiar em teu Mestre e deves confiar em ti mesmo. Se já viste o Mestre, nele confiarás plenamente através de muitas vidas e mortes. Se ainda não O viste, deves tentar averiguar a Sua existência e confiar Nele, porque se o não fizeres, nem mesmo Ele te poderá ajudar. Sem que haja perfeita confiança, não poderá haver perfeita efusão de Amor e poder.

Necessitas confiar em ti mesmo. Dizes que te conheces muito bem? Se assim pensas, não te conheces; conheces apenas o débil envoltório externo que, frequentemente, tem caído na lama. Porém tu, o Eu Real, és uma centelha do fogo Divino e Deus, que é Todo-Poderoso, está em ti e, por este motivo, nada existe que não possas fazer, se o quiseres. Dize a ti mesmo: “O que o homem fez, o homem pode fazer. Eu sou um homem, porém sou também o Deus que está no homem; eu posso fazer isto e quero fazê-lo”. Se quiseres trilhar a Senda, a tua vontade deve ser como aço de boa têmpera.

 

 

IV – AMOR

 

De todas as qualidades, o Amor é a mais importante. Frequentemente é expresso como um intenso desejo de se libertar da roda dos nascimentos e mortes, e de se unir com Deus. Entendê-lo, porém, deste modo, denota egoísmo e alcança apenas uma parte de sua significação. Não é tanto o desejo, como a vontade, a resolução, a determinação. Para produzir resultados, essa resolução deve encher de tal modo a tua natureza inteira, que não deixe lugar para qualquer outro sentimento. É, na verdade, a vontade de seres uno com Deus, não para escapares à fadiga e ao sofrimento, mas para que, pelo teu profundo Amor por Ele possas agir com Ele, porque Ele é Amor e, se te quiseres unificar com Ele, deves encher-te de profundo desinteresse e Amor.

Na vida diária, isso exige duas coisas: em primeiro lugar, ter o cuidado de não fazer mal a nenhum ser vivo; em segundo, vigiar as oportunidades de prestar auxílio.

Primeiro, não fazer mal. Três pecados há que operam maior dano do que todos os outros no mundo, por serem pecados contra o Amor: a maledicência, a crueldade e a superstição. Contra esses três pecados, o homem que quiser encher o seu coração do Amor de Deus deve estar vigilante, incessantemente.

 

A maledicência - Observa os efeitos da maledicência: começa com um mau pensamento e este, em si mesmo, já é um crime, pois que, em tudo e em todos, existe o bem e o mal. Podemos reforçá-los pelo pensamento e, deste modo, ajudar ou atrapalhar a evolução; podemos fazer a vontade de Deus ou resistir-Lhe. Se pensares no mal que existe em outrem, cometes ao mesmo tempo três ações más:

1. Enches teu ambiente de maus pensamentos, aumentando assim a tristeza do mundo.

2. Se nesse homem existir o mal que supões, o fortificas e o alimentas e, assim, tornas pior o teu irmão, em vez de o melhorar. Porém, geralmente o mal nele não existe, sendo apenas um produto da tua fantasia; e então o teu pensamento tentará o teu irmão à prática do mal, pois que, se ele não for ainda perfeito, poderás torná-lo tal qual o imaginaste.

3. Saturas a tua mente de maus pensamentos; retardas, assim, o teu próprio crescimento, tornando-te aos olhos dos que podem ver, um objeto feio e penoso em vez de belo e atraente.

Não satisfeito de ter feito todo este mal a si próprio e à sua vítima, o maledicente tenta, com todas as suas forças, fazer com que os outros participem do seu crime. Prontamente conta a perversa história, na esperança de que o acreditem; e, então, juntam-se todos a enviar maus pensamentos à pobre vítima. E isto repete-se dia a dia e é feito, não por um homem, mas por milhares. Começas a ver quão terrível é este pecado? Deves, por completo, evitá-lo. Nunca fales de ninguém; recusa ouvir o mal que te disserem dos outros e, suavemente, pondera: "Talvez isso não seja verdade e, se o for, é mais caritativo não falarmos nisso".

 

A crueldade – Quanto à crueldade, ela pode ser de duas espécies: intencional e não intencional. A crueldade intencional consiste em causar dano a um ser vivo, deliberadamente; este é o maior de todos os pecados, próprio antes de um demônio, do que de um homem. Dirás que nenhum homem cometeria tal crime; porém, os homens o cometeram muitas vezes e o cometem, ainda, diariamente. Praticaram-no os inquisidores; muita gente religiosa o praticou em nome da sua religião. Os que dissecam seres vivos, o praticam; muitos professores o praticam habitualmente. Toda essa gente procura desculpar a sua brutalidade dizendo que é o costume; um crime, porém, não deixa de o ser porque muita gente o comete. O carma não leva em conta o costume e o carma da crueldade é, de todos, o mais terrível. Na Índia, pelo menos, não há desculpa para tais hábitos, pois o dever de não fazer mal é por todos bem conhecido. A sorte reservada ao cruel incide também sobre todos aqueles que intencionalmente matam criaturas de Deus, sob o pretexto de desportos.

Não deves fazer estas coisas e, por amor a Deus, quando a oportunidade se oferecer, falarás abertamente contra elas. Porém, existe a crueldade na palavra, da mesma forma que nos atos, e um homem que diz algo com a intenção de ferir a outrem é passível desse crime. Isto também não farás; porém, às vezes, uma palavra impensada faz tanto mal como se fosse malévola.

Deves, pois, estar de sobreaviso contra a crueldade irrefletida. Ela se origina comumente da irreflexão. Um homem cheio de avareza e cobiça não pensa jamais nos sofrimentos que causa aos outros, pagando-lhes pouco e deixando meio famintos suas mulheres e seus filhos. Um outro pensa apenas nos seus desejos luxuriosos, pouco se importando com os corpos e com as almas que arruína para sua satisfação. Um outro, somente para poupar-se uns poucos minutos de incômodo, não paga aos seus operários no dia designado, sem pensar nas dificuldades que lhes impinge. Muito sofrimento pode ser causado pela irreflexão, pelo desinteresse de pensar sobre o modo pelo qual uma ação afeta os outros. Porém, o carma não esquece nunca e não leva em conta que os homens esquecem. Se desejas entrar na Senda, deves pensar nas consequências das tuas ações, a fim de não incidires em crueldade irrefletida.

 

A superstição – A superstição é outro grande mal, que tem causado muitas e terríveis crueldades. O homem que é seu escravo desdenha aqueles que são mais sábios e tenta fazê-los agir do mesmo modo. Pensa nos horrendos massacres produzidos pela superstição, que aconselha o sacrifício de animais, e pelo ainda mais cruel preceito de que o homem necessita de carne para alimentar-se. Pensa nos maus tratos que a superstição tem criado para as classes oprimidas da nossa Índia bem amada e verifica quanto esta má qualidade pode gerar de covarde crueldade, mesmo entre aqueles que conhecem o dever de serem fraternais. Muitos crimes os homens cometeram em nome do Deus de Amor, movidos pelo pesadelo da superstição; cuida, pois, para que dela não reste em ti o menor vestígio.

 

Estes três grandes crimes deves evitar, pois são fatais a todo o progresso, por serem pecados contra o amor. Não basta, porém, refrear o mal; é preciso ser ativo no bem. Deves encher-te tanto, do intenso anseio pelo serviço, que estejas sempre vigilante para prestá-lo em torno de ti, não somente aos homens, como também às plantas e aos animais. Deves prestá-lo nas pequenas coisas, cada dia, a fim de que o hábito se forme e não percas as raras oportunidades em que grandes coisas se apresentam para ser feitas. Se anseias unificar-te com Deus, não seja por amor de ti próprio, mas a fim de que possas ser um canal, através do qual o Amor Dele flua sobre os homens, teus irmãos.

Aquele que está na Senda não existe para si mesmo, apenas para os outros; esquece a si próprio para poder servir ao próximo. Ele é como uma pena na mão de Deus, através da qual o pensamento Dele é expresso em palavras. Ele é um feixe de fogo vivo, radiando sobre o mundo o Amor Divino que lhe enche o coração.

A Sabedoria que torna capaz de ajudar, a Vontade que dirige a Sabedoria e o Amor que inspira a Vontade: tais são as qualidades requeridas. Vontade, Sabedoria e Amor são os três aspectos de Deus e tu, que desejas alistar-te ao Seu serviço, deves expressar esses três aspectos no mundo.