A META DA VIDA

 

("Buscai, antes de tudo, o Reino de Deus"  -  O Cristo)

 

 

Estamos cansados de ouvir a 'verdade' mundana de que nossa missão aqui na terra é satisfazer todos os nossos sonhos e desejos. Este absurdo nos é ensinado desde a infância; lemos isto em livros, ouvimos na televisão... Não é de estranhar que acabemos acreditando nesta mentira terrível. Depois de tamanha lavagem cerebral, é necessário muito discernimento e desapego para percebermos o erro, porque o mal enraizou-se profundamente em nossas mentes. Percebo muitos perigos, decorrentes desta crença; mas, vou exemplificar apenas um, a seguir, para não prolongar demais o assunto; quem meditar e refletir sobre a questão, certamente descobrirá muitos outros.

Me aproximo de alguém e aconselho: "Nunca desista dos seus sonhos; você tem direito de sonhar, e obrigação de realizá-los, para ser feliz". Será que conheço a pessoa a quem aconselhei? Não estou me referindo a conhecer seu nome e seu passado; me refiro a conhecer seus mais íntimos pensamentos. É claro que ninguém conhece os mais íntimos pensamentos dos outros, por mais próximos que sejam. Pode ser que o maior e mais secreto desejo da pessoa aconselhada, seja tornar-se um novo Adolf Hitler e, então, estou estimulando-a a prosseguir com o seu intento; ou pode ser que ela tenha um ressentimento antigo contra mim e o seu maior sonho seja ver-me morto.

A loucura é geral, variando apenas em grau: desde o louco 'normal' (a maioria de nós), até aqueles que estão presos ou internados. A diferença entre um assassino e nós, autorrotulados como 'pessoas de bem', é que o assassino teve a coragem de satisfazer o seu desejo/sonho de matar alguém, enquanto nós, apenas por medo de sermos presos, ainda não tivemos a mesma coragem; mas, até quando conseguiremos resistir aos impulsos do mal interior, já que os conselheiros de plantão continuam tentando 'ajudar' os outros?

 

Apresento agora uma proposta de reflexão, que contraria os profetas da autoestima: diante do Altíssimo, nós (que consideramo-nos cidadãos exemplares) não somos melhores do que os condenados por quaisquer crimes mundanos, porque o julgamento Divino é no plano mental, isto é, somos condenados por nossos pensamentos; por isto, nos alertou o Cristo: "Vós sois maus". O Grande Instrutor não refere-Se apenas aos fariseus, mas a todos nós, pessoas acorrentadas à ilusão de que a meta da vida é satisfazer sonhos e desejos egoístas. Somos espiritualmente maus porque, para conseguir satisfazer nossas ambições pessoais, precisamos destruir os sonhos dos outros. Alguém que deseja tornar-se rico, famoso e poderoso, apenas consegue alcançar este objetivo se deixar de lado os seus escrúpulos e passar por cima do resto do mundo...

Neste momento, para livrarem-se da culpa, muitos vão argumentar: "Sou altruísta e uma pessoa boa, porque o meu sonho é tornar o mundo um lugar melhor para todos" ou "Sou uma pessoa boa, porque dou dízimo à igreja e contribuo para proteger a natureza e salvar vidas". Quem ajuda o mundo, por compaixão desinteressada, não sentiria necessidade de apresentar tais argumentos, nem agora, nem nunca, e ajudaria em total anonimato e discrição. Apenas quem sente, lá no fundo, que faz tudo isto por prazer, dinheiro, fama ou poder é que tenta justificar-se. Quem ajuda, fazendo propaganda e/ou exaltando-se interiormente ("sou uma pessoa boa"), não faz isto pelos outros, faz por si mesmo (isto é egoísmo); portanto, a culpa prevalece. Observe o que ocorre dentro de você ao dar uma esmola, ajudar um cego a atravessar a rua, cuidar de um doente ou levar para casa um cão ferido, e você perceberá que é culpado(a) pelo 'crime' de egoísmo. Por ser motivada por este pecado capital, você nunca poderia ter certeza (embora tenha) de que a sua 'ajuda', realmente ajuda o mundo... Os Sábios provam que, antes de mais nada, devemos buscar a Verdade (DEUS), pois esta é a meta da vida; depois, estaremos em condições de ajudar o mundo sem egoísmo e, portanto, sem possibilidade de erros.

Será que somos tão virtuosos quanto pensamos? Será que somos bons exemplos para os demais? Será que temos autoridade e sabedoria para sair por aí, dando conselhos e querendo salvar o mundo? Para não retardarmos ainda mais a dura jornada em direção à meta da vida, precisamos começar a perceber que a resposta para todas estas perguntas é: "NÃO". Contudo, esta compreensão pode nos abater de duas formas:

1. Se sentimos necessidade de melhorar o mundo. Resposta de Ramana Maharshi: "Conhecer-se a si mesmo é a melhor contribuição que cada um de nós pode oferecer à humanidade". Não devemos ficar tristes por não termos dinheiro, saúde ou influência para mudar o que consideramos errado, à nossa volta; uma humilde e discreta vitória sobre o próprio ego é mais valioso, para o bem geral, do que construir hospitais públicos e casas para a população de baixa renda, criar ONGs e instituições de caridade, etc.

2. Se nos sentirmos como pecadores, com passaporte já carimbado para o 'inferno'. A mensagem dos Sábios, para quem for ameaçado por esta dúvida é: não importam os erros passados; o arrependimento sincero nos redime de todos os pecados, como ensina o Senhor Jesus, através da parábola do filho pródigo. Importantíssimo: arrependimento sincero é uma transformação interior; encenações e rituais externos podem convencer o mundo de que nos arrependemos, mas não enganam Aquele Que Tudo Sabe.

 

 

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27/12/2006

 

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