PODER E COMPAIXÃO (2)

 

A virtude (poder) conhecida como "Compaixão" (ou Amor, ou Misericórdia) é um dos principais diferenciais entre nós, pessoas comuns, e os verdadeiros homens de Deus.

Dizem que Gautama Buda, o inspirador do Budismo, era agnóstico/ateu; no entanto, o que conheço de seus ensinamentos foi suficiente para convencer-me exatamente do oposto. Alguns belos e poderosos discursos sobre Compaixão, deixou-nos este Buda, e gostaria de citar um deles, a seguir.

"Se vossos deuses são bons, não podem eles alegrar-se com as oferendas que depositais a seus pés: sacrifícios de sangue; carne de animais inocentes, covardemente assassinados. Porém, se vossos deuses são maus, tais sacrifícios nunca os saciarão e eles vos cobrarão sempre mais e mais oferendas". No instante em li que esta passagem, registrada no pequeno (mas enorme) livro "Evangelho de Buda", a Verdade da lição iluminou o coração deste que vos escreve e, constrangido, ouvi perguntar-me, a Voz Interior: "Se, nos negócios do mundo, puderes lucrar um milhão de reais, te contentarias com um lucro de apenas mil? Não buscarias o milhão ou até mais, te preocupando apenas em manter-te dentro dos limites da selvageria civilizada e eticamente correta que tão bem conheces, sem mais reflexões sobre as consequências de tua ambição? Para concretizar teus sonhos/planos e gozar teus prazeres, não estás pronto para, valendo-te dos mesmos critérios de civilidade, passar por cima de tudo e de todos, que te sejam obstáculos?". Sim, o Buda externo e o Buda interno estão certos: a maldade (egoísmo/amor-próprio/autoestima) só pensa em si mesma e nunca está satisfeita; para a maldade, muito é muito pouco e ela sempre quer mais...

Como o Senhor Buda alertou, a Criação inteira está unida/interligada por laços inquebrantáveis, assim como as pérolas estão unidas pelo fio do colar. Nada é novo, nada pode ser criado, pois tudo já existe desde sempre. Portanto, riquezas não serão criadas, de forma que eu possa enriquecer de bens materiais; para que isto aconteça, muitos devem empobrecer. Saúde não será criada, para me tornar perfeitamente saudável. Se apaixonadamente ambiciono isto, a saúde perfeita virá, sim; mas, à custa da saúde de outros seres sencientes. Cada prazer que desfruto, automaticamente faz sofrer alguma forma de vida, pois nenhum prazer pode ser gerado: ele será tirado de alguém e a perda de um prazer sempre provoca sofrimento... Contudo, tão certo como o Sol diariamente nasce no leste e se põe no oeste, todo o mal que provocamos retorna para nós mesmos ("Quem, com espada fere, com espada será ferido"  -  Jesus Cristo).

Ao contrário, a Compaixão (Bondade) sempre pensa no Todo, nunca em si mesma, em Seu benefício pessoal. Os seres humanos compassivos não precisam cuidar de si mesmos, pois estão sob o cuidado permanente da Força Superior. Eles não se deixam guiar por suas próprias vontades; ao contrário, aceitam a Vontade Divina, seja Ela qual for. Por isto, são os bem-amados do Altíssimo, os verdadeiros vencedores do mundo. Gostaria de, a seguir, repetir dois exemplos de Poder e Compaixão, citados em textos anteriormente publicados nesta web-página.

Para benefício de toda a humanidade, o Senhor Jesus se expôs publicamente à humilhação, à tortura e à morte física, sem nada reclamar. Este me parece ser o exemplo mais conhecido, no mundo todo, da vitória do Espírito sobre a carne; do Amor, sobre o egoísmo; da vitória sobre si mesmo.

Mais discreta, porém não menos exemplar, foi a via-crúcis de Ramana Maharshi, que pacientemente suportou o sofrimento contínuo de seu corpo material, vitimado por câncer, sempre com um sorriso de Compaixão nos lábios, sorriso que permaneceu até o momento da morte corporal, em abril de 1950. A Sua dor/sofrimento físico não Lhe importava ou preocupava. Mesmo durante a devastação que a doença lentamente provocava em Seu corpo, para Ele apenas as dores e as necessidades de Seus devotos eram importantes. E afirmou, nos últimos meses de vida: "A dor faz parte do Todo, que é todo perfeição; portanto, a dor é perfeita e deve ser aceita".

 

Em um outro livro budista, li um belo conto sobre a Compaixão de um Buda anterior a Gautama Siddhartha. Não lembro do texto, palavra por palavra; portanto, a narrativa abaixo está sujeita ao colorido pessoal deste digitador.

Aproximou-Se o Senhor Buda, da margem de um rio, que podia ser cruzado a pé. No outro lado do riacho havia uma tigresa, com dois filhotes. Estavam, os três animais, raquíticos e enfraquecidos pela fome; contudo, os filhotes ainda tinham um pouco de força, e choravam. Comoveu-se o coração do Buda, diante daquela cena. Então, da margem oposta, Ele perguntou: "Irmãzinha, queres esta carne, para alimentar-te e a teus filhinhos?". Imediatamente, entrou Ele no rio e atravessou-o. Ao aproximar-Se, sorrindo, a tigresa saltou sobre Ele, cravando os dentes em Seu corpo. Enquanto Sua carne era dilacerada, ainda sorria o Buda e, sorrindo de Compaixão, deu o suspiro final...

 

 

Textos relacionados:

Poder e Compaixão

 

 

09/11/2012

 

http://quemsoueu00.blogspot.com/