O SILÊNCIO 

 

("Silencia-te e saberás: EU sou Deus"  -  Salmos, 46.10)

 

 

Foi registrado, no diário de um dos devotos de Bhagavan Ramana Maharshi, o episódio descrito a seguir.

Um visitante pediu, respeitosamente, que Ele esclarecesse a validade/poder do ensinamento através do Silêncio. Ramana concordou e as pessoas presentes acomodaram-se aguardando, atentas, as Suas explicações. Contudo, Ele permaneceu imóvel e calado. Dezenas de minutos se passaram e nenhum movimento; ninguém se mexia, ninguém falava... mas, uma sensação interior de Paz começou a ser percebida por todos. Nove horas da noite, dez horas, onze, duas da madrugada... e o mundo e suas mazelas eram lembranças cada vez mais distantes; corpo, mente, espaço e tempo foram tragados por aquele divino Silêncio. Afinal, já no fim da madrugada, suavemente Bhagavan manifestou-Se: "Alguma dúvida sobre o Poder do Silêncio?".

 

O Silêncio requerido não é apenas oral, mas principalmente mental, isto é: desvincular-se da mente (pensamentos, sentidos, emoções, etc.) e repousar Naquilo que realmente somos (o "EU" do Salmo 46), que normalmente permanece oculto por ela (a mente). A atenção sobre a atividade mental naturalmente refreia palavras/ações e, a observação das próprias palavras/ações, contribui para a reeducação da mente. Silencia-te, pois. Não importa que o mundo berre e tagarele à tua volta; que estejam todos correndo de um lado para outro, feito "baratas tontas", tentando realizar sonhos e alcançar objetivos; que tenhas, mil vezes, que dizer "não!" aos que quiserem te arrastar de volta para a loucura; que vejas gente gozando a vida da forma que ainda te atrai. Não importa que tenhas que deixar de dar conselhos aos teus semelhantes; que tenhas que deixar de ajudá-los e curá-los, do jeito que atualmente achas que é certo; que tenhas que abrir mão do prazer e do orgulho de contribuir para salvar o mundo. A Paz e a Felicidade eternas estão no Silêncio Interior, ensinam Aqueles que sabem, e em nenhum lugar fora de nós. Quando a dúvida ameaçar, lembra-te dos exemplos dignos de serem seguidos. Vou citar apenas um, bastante conhecido, cuja vida foi documentada e parece não haver dúvidas, entre os historiadores, sobre sua integridade e santidade: consegues imaginar São Francisco de Assis participando de churrascos/bailes, batendo papo em mesa de bar, se distraindo diante da televisão ou orgulhando-se por ajudar seus semelhantes?

Não busques consolo entre parentes e amigos, pois o Silêncio Interior é o único consolador que sempre estará contigo, em qualquer instante da Existência. Não busques as confraternizações sociais, para esqueceres os teus infortúnios, pois estarás criando mais e mais vínculos, que cedo ou tarde voltar-se-ão contra ti. As esmolas que o mundo oferece (consolos e prazeres) duram pouco e transformam-se em grandes sofrimentos, que duram muito. Estou escrevendo isto para ti e para mim, pois passo por um momento difícil/doloroso e o ego não cansa de sugerir que devo fazer exatamente o que estou agora condenando.

Há uma aparente contradição, neste texto. Mencionei que não devemos dar conselhos para os outros; porém, estou aqui a dar conselhos para ti. No entanto, estou lançando a semente, sem ansiar pelo fruto: não sei se este texto será lido e, muito menos, se os conselhos (que, na verdade, não são 'meus') ajudarão os buscadores que vierem a lê-lo. Como já alertei anteriormente, não há como o leitor comunicar-se comigo e, portanto, não posso estar agindo com o intuito de receber retribuição/pagamento por esta "ajuda", através de possíveis mensagens de agradecimentos e elogios. Acho que esta é a forma segura de tentar ajudar, sem fortalecer ainda mais o ego...

 

 

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16/10/2009

 

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