TUDO, NADA / OS POMBOS

 

 

"Quem nada e ninguém tem no mundo, para o proteger e consolar, pertence ao Senhor

 e está, em todos os momentos da vida, sob a Proteção Divina".

 

 

De quase nada do mundo realmente precisamos; mas, quase tudo do mundo queremos...

Esta grande ironia, às vezes, me faz sorrir; às vezes, chorar.

 

Numa manhã destas, olhei pela janela e percebi que fazia frio e chovia bastante.

Na rua, pessoas passavam agasalhadas e abrigadas sob guarda-chuvas.

Contudo, no telhado vizinho, os pombos descansavam tranquilamente,

Expostos à chuva e ao frio, sem quaisquer proteções, exceto aquelas que a Vida lhes deu.

Eles não se preocupavam por molhar as penas ou por contrair resfriado/pneumonia.

As singelas criaturas "irracionais" simplesmente confiam na Vida.

Mas nós, os "racionais", embora filhos da mesma Vida, não temos fé Nela:

Precisamos de todas as proteções mundanas possíveis e imagináveis;

Precisamos pensar no dia de amanhã: comprar casa, poupar para a aposentadoria;

Precisamos dos seguros, dos planos de saúde, dos médicos e dos remédios;

Precisamos do dinheiro, para concretizar os sonhos de segurança e felicidade.

E, mesmo quando alcançamos tudo que, no passado, nos parecia necessário alcançar,

Ainda assim, no presente, não nos sentimos seguros e satisfeitos,

Porque novos medos/angústias e objetivos/sonhos substituíram os anteriores...

 

Enquanto a dramática existência do ser humano prossegue, sem Paz,

Observo que os pombos da vizinhança continuam em Paz, como sempre:

Acumulam nada, preocupam-se com nada, compram/vendem nada, sonham com nada.

Comemoram/festejam nada, pois para eles não há acontecimentos ou dias especiais.

Assim sendo, todos os acontecimentos e todos os dias lhes são especiais, dádivas da Vida.

Não sofrem, recordando o passado, e não se afligem com o incerto futuro.

Nada têm neste mundo; mas, tudo que é indispensável recebem da Vida.

Nada pedem, pois sabem que a Vida conhece todas as reais necessidades de seus filhos.

 

A racionalidade nos impede de perceber que, quanto mais o mundo digna-se nos dar,

Tanto maiores e mais frequentes tornam-se as suas cobranças.

Tanto mais dinheiro, mais preocupações por multiplicá-lo e protegê-lo dos ladrões.

Tanto mais amigos, mais esforços para que não se tornem inimigos.

Tanto mais bens materiais, mais impostos e aborrecimentos/despesas para mantê-los.

Tanto mais direitos/benefícios a sociedade concede, mais restrições/obrigações ela impõe.

Nesta vida (mundo material) sem Vida, nada conquistamos ou recebemos de graça.

Então, quem quer viver livremente no mundo, deve aceitar quase nada do que ele oferece.

Assim têm agido, ao longo da história, todos os homens que alcançaram Paz e Felicidade.

"Não tenho direitos e não tenho preocupações", disse certa vez o sábio Ramana Maharshi.

 

... E lá estão os pombos: sem dinheiro, sem casa, sem família, sem guarda-chuva,

Sem parafernálias tecnológicas, sem hospitais, sem cidadania e sem a próxima refeição.

Mas, para minha surpresa, tranquilos e satisfeitos, como sempre...

 

 

 

Homenagem a Francisco, o santo de Assis, que teve humildade para aprender fé com as aves

e coragem para dizer "NÃO!" ao mundo material...

 

21/05/2011

 

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