PODER DA MENTE 

 

 

Este deve ser um dos assuntos favoritos de muita gente. Mesmo quem já entrou na Busca e sabe que a mente deve ser transcendida, ainda está sujeito ao encanto deste poder.

A decisão de escrever sobre isto aconteceu devido à lembrança de uma experiência pela qual passei, no início da jornada. Naquela época, li um livro sobre o assunto-título, escrito por um famoso guia hindu, e fiquei empolgado com as possibilidades que ele apresentava, para aqueles que exercitassem e desenvolvessem, positivamente, tal aptidão. A referida experiência foi tão marcante que, mesmo agora, muito tempo depois, posso ainda descrevê-la com segurança, sem consultar as anotações do diário particular, que então redigia.

 

Estava hospedado em uma pousada, onde morava um cão grande e brincalhão. Ele provavelmente estava incomodando alguém pois, um dia, vi-o amarrado a uma corda de metro e meio mais ou menos, lá nos fundos do terreno. O animal tentava desesperadamente soltar-se e imaginei o seu sofrimento, já que era meio-dia, sob um sol escaldante de verão e, dentro do perímetro onde a corda lhe permitia movimentar-se, não havia sombra onde pudesse se abrigar. Observava a cena da janela do quarto, a uns 20 metros de distância, muito angustiado com o drama do cão, que atirava-se para todos os lados, ganindo e gemendo. Após uns 15 minutos de luta, cansou-se e parou, com as patas sobre um pequeno pedaço de terra e grama, que devia estar bem menos quente do que o chão de cimento, à sua volta. Naquele momento, um impulso egocêntrico manifestou-se: "Tens força para libertar o animal, sem arrumares confusão com quem o prendeu". Imediatamente, concentrei a visão sobre o cão e, mentalmente, comecei a repetir a ordem: "Você está livre e pode sair daí, neste instante". Após alguns minutos, ainda olhando fixamente para ele, vi-o erguer-se das patas traseiras e caminhar normalmente; quando a corda esticou-se, simplesmente se soltou da coleira e ficou lá, estendida no chão. Não tenho noção de quanto tempo fiquei ali parado, boquiaberto, surpreso com o ocorrido. Fechei e reabri os olhos; mas, a cena ainda era a mesma: não havia mais cão preso à corda; ele já estava na sombra de sua casa, bebendo água avidamente.

 

Nem mesmo na ocasião, comentei sobre este caso com outras pessoas. Esta é a primeira vez que refiro-me a ele e, também, a última. Confesso que, na hora, houve orgulho e desejo de divulgar a proeza; porém, como intuitivamente senti que alguma coisa ruim havia naquilo tudo, fiquei calado. Felizmente, não segui este caminho e nunca mais pensei em usar o poder da mente, para mudar o curso dos acontecimentos. Naquela época, ainda não havia encontrado os ensinamentos dos Salvadores do mundo; mas, hoje sei: fui guiado pelo Mestre Interior, que existe em todos nós. Não estou mencionando este 'milagre' para me vangloriar e sim para lembrar-te de que as tentações estão sempre por aí, nos espreitando. E como elas são agradáveis/prazerosas! Como tentam nos convencer de que, apenas nos rendendo a elas, a vida vale à pena! (sim, não te iludas: ceder aos impulsos e desejos é fraqueza, covardia e rendição ao inimigo). Para atrapalhar ainda mais, há os conselhos de vários guias espirituais: "Você não precisa se esforçar pela Iluminação", "Aceite-se como você é", etc. E o ego (o inimigo) aproveita-se da situação, levando-nos a crer que o pronome "você", nestas frases e em outras, equivalentes, refere-se a ele (ego) e não à nossa verdadeira identidade (EU).

Especificamente sobre a tentação do poder mental, a motivação deste texto, os verdadeiros Sábios nos alertam para não nos deixarmos seduzir por ele, tomando-o como nosso, pois não nos pertence: é do Altíssimo (na verdade, nada nos pertence). Da mesma forma que pode ser 'emprestado' ao homem, será tomado de volta, cedo ou tarde, sem aviso prévio. Quem se apegar à esta força, além de desviar-se da Meta, muito vai sofrer, quando perdê-la.

No caso que descrevi, não foi o "meu" impulso/desejo/poder que libertou o cão; foi a vontade de Deus, manifestando-se através desta alma. Se a Sua vontade fosse que o animal sofresse mais ainda, talvez perecendo de insolação, nenhum pensamento ou ação surtiria efeito; em contrapartida, tendo ele que ser libertado naquele instante, se "eu" não estivesse lá, outro intermediário seria usado. Portanto, não há motivo para exaltação egocêntrica.

Sobre o que até aqui foi exposto, há argumentos mundanos contrários, mais ou menos assim: "Deus gosta de ser ajudado pelo homem" ou "Por que Ele precisaria agir através de nós e, não, diretamente?" ou "Por que Ele nos mostraria ou permitiria que usássemos esta força, se ela fosse ruim?", etc. Considerando a experiência vivida por este digitador, diria que Ele age por nosso intermédio para nos ministrar lições de Vida. Os brinquedos que nos atraíam quando éramos crianças, hoje em dia significam nada para nós. Da mesma forma, os poderes ocultos e outros prazeres, vamos dizer, "sofisticados", são brinquedos que o Altíssimo interpõe entre nós, Suas crianças, e Ele. Desconheço o motivo de tal barreira; imagino, porém, que seja para ter junto de Si apenas aqueles que não querem mais saber de brincadeiras e O anseiam de todo Coração ("Buscai, antes de tudo, o Reino de Deus" - Jesus Cristo).

 

 

Senhor, faz de mim um instrumento de Tua Paz.

 

12/01/2010

 

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