"DEPOIS DA TEMPESTADE, VEM A BONANÇA..."

 

 

Costumamos usar este dito popular para consolar quem passa por momento difícil. Infelizmente, o oposto acontece com a mesma frequência, pois um período de bonança necessariamente é seguido por outra tempestade. Assim é a vida que conhecemos: num dia, alegria e fartura; noutro dia, sofrimento e carências. Durante os períodos de alegria, queremos ser alegres ao máximo, acumulando forças para suportar a próxima fase de sofrimentos. Ironicamente, a corrida frenética do homem, atrás de alegrias/prazeres, impede que percebamos a verdadeira, incondicional e eterna Alegria/Felicidade que está aqui e agora, em nossos corações, assim como as nuvens impedem que vejamos o Sol, embora ele sempre esteja lá no céu. Isto é ensinado por todos os Sábios e sei que Eles estão certos ("O Reino de Deus está dentro de vós" - Senhor Cristo).

Dia destes, alguém me disse que precisava aprender a não ser contaminado pela negatividade e pelo mau-humor dos outros, mas vejo que esta mesma pessoa se deixa empolgar pela positividade e pelo bom-humor de quem a rodeia. Também isto é ensinado, desde sempre: não é possível dividir, em duas partes, os pares de opostos da existência ("dualidades"), aceitando as metades que nos agradam e descartando as metades desagradáveis, já que elas (as metades) são inseparáveis. Exemplos de dualidades: prazer e dor; tempestade e bonança; calor e frio; bem e mal; bom-humor e mau-humor; etc. Então, quem quer se livrar da dor deve, obrigatoriamente, abdicar do prazer; quem quer ver-se livre do mau-humor (seu e/ou dos outros) deve, obrigatoriamente, abdicar do bom-humor (seu e/ou dos outros). Tal sonho de seletividade, que a pessoa mencionada deseja realizar, é tão impossível quanto o é gozar as delícias da bonança, mantendo-se calmo e indiferente durante a tempestade... Atenção, pois renunciar ao bom-humor mundano não significa tornar-se triste, carrancudo ou rabugento, muito pelo contrário: as vidas dos verdadeiros Sábios provam isto.

Caro(a) buscador(a): se não integras a turma que diz: "Isto é assim mesmo, faz parte...", se queres ver-te livre das tempestades da vida, não te escravizes às alegrias passageiras e nem exultes, durante os períodos de bonança; se não queres ser influenciado(a) pelos mau-humorados, não te deixes influenciar pela gente que fala em "celebrar a vida", que chama todo mundo de amigo e que vive entre gargalhadas e comemorações. Para cada conversa/gargalhada fútil, muitas lágrimas de sofrimento estarás semeando para ti, e serás obrigado(a) a colhê-las no futuro, lembra-te sempre disto. Não sei o que é a verdadeira Felicidade, mas, com certeza, Ela não é qualquer das coisas boas que já experimentamos neste mundo, por melhores que elas tenham sido. Repito o que proclamou o Senhor Krishna, no Bhagavad-Gîtâ: "Quem não se alegra, no momento da alegria, nem se entristece, no momento de tristeza, é um sábio e alcançou a Felicidade". O segredo é esforçar-se por manter a imparcialidade, permanecer acima dos prazeres da bonança, pois esta atitude mental fortalece o coração, que gradualmente nos eleva até acima das nuvens tempestuosas... Esta é a recompensa divina para quem acumula riquezas celestes (espirituais) e renuncia às riquezas do mundo (materiais e sensoriais). É inútil o menosprezo e a rebelião contra esta Verdade, tentando mudar o que não pode ser mudado, pois assim é a vontade de DEUS, garantem Aqueles que sabem. Não podemos alegar ignorância desta Lei Divina, que também é conhecida e divulgada, desde o início dos tempos, como "Lei do carma"; se não vivemos de acordo com ela, é por fraqueza e não por nunca nos terem dito como a Criação funciona. No conhecido sermão que pregou o Senhor Buda, quando visitou o lugar onde nasceu e cresceu, Ele sentenciou: "Vós sofreis porque quereis". Por apego/escravidão aos prazeres temporários da vida, cada um de nós fecha, para si mesmo, a porta do Reino da Felicidade sem fim e sem limites...

OBS.: Prefiro usar a palavra "Felicidade" e não "Liberdade", para designar o ápice da evolução humana, porque, como todos acham ser livres, já aprendi que a segunda tem pouco impacto sobre nós. O homem demora muito, muito tempo, para começar a perceber a lamentável escravidão em que vive. Na verdade, quem se entrega ao orgulho, é escravo do orgulho; quem se entrega às paixões, é escravo das paixões; quem se entrega ao medo, é escravo do medo; quem se entrega à dor, é escravo da dor; e por aí vai... Aqui, há uma única exceção, que, lá no fundo do coração, bem sabemos qual é: quem se entrega a DEUS, não é escravo de DEUS: é filho de DEUS.

 

Disciplina, atenção interior e autocontrole: tudo o que dizem ser hábitos de neuróticos, é exatamente o que precisa exercitar e desenvolver, quem já cansou-se de tropeçar vida afora e que sinceramente anela voltar para Casa (ou "Reino de Deus").

 

   

Senhor, faz de mim um instrumento de Tua Paz.

 

16/09/2010

 

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