QUANTO VALE A VIDA?

 

 

Acredito que a seguinte pergunta sempre ocorre, em algum momento da jornada espiritual: "Para buscar a Verdade (ou Vida, ou Deus), é indispensável que eu abandone a vida que tanto amo?". Há várias respostas dos Sábios, cada uma adequada a certo tipo de pessoa. Uma das respostas de Ramana Maharshi é esta: não é necessário renunciar fisicamente ao mundo, tornar-se um ermitão; indispensável, sim, é aprendermos a dar, à vida, o valor que ela realmente merece.

Dizem por aí que a vida material é muito valiosa, que é dádiva de Deus, que devemos fazer o possível e o impossível para conservá-la e desfrutá-la; mas, os raros homens que conhecem a Vontade Divina dão pouco valor a ela. Então, das duas, uma: ou os Cristos/Budas estão errados, por desvalorizarem a vida, ou estamos errados nós, o restante da humanidade, por agirmos exatamente ao contrário Deles. Supervalorizando esta vida, estamos sujeitos ao sofrimento, à insatisfação, à tristeza, ao desânimo e à revolta, quando as coisas não acontecem como achamos que deveriam acontecer. Procedendo assim, o ser humano constrói tamanho castelo de sonhos/esperanças e desejos/expectativas, que, ao olhar para a sua vida, ele a acha intolerável, pois ela jamais será do jeito que sonhamos. Assim, para esquecer a vida e continuar sobrevivendo, a solução é nos dedicarmos às futilidades e aos vícios habituais, presentes em nossos cotidianos. E, se nenhuma distração/alienação der resultado, ainda nos resta o último recurso, que é esquecer a vida indo dormir... Se ela fosse valorizada corretamente, seríamos capazes de aceitar com paciência/calma todos os revezes e aparentes calamidades/derrotas. É fácil agradecer a Deus quando tudo vai bem, quando a mesa está farta, quando a conta bancária está com saldo positivo elevado, quando a saúde está em ordem; mas, é verdadeiramente feliz, livre e vencedor quem sinceramente agradece a Deus mesmo quando nada tem para comer, nenhum teto para o abrigar e ninguém na vida mundana para o consolar e proteger... 

 

A palavra "vida" tem significado bastante abrangente e, aqui na página "Os Destruidores de Ilusões", ela é usada de duas maneiras:

1. "vida" (com todas as letras minúsculas) para indicar o conjunto de sensações (consciência), que retornam à atividade quando acordamos do sono, de um desmaio ou de uma anestesia geral, isto é: percepção de um mundo individual ("eu", o fulano de tal) e percepção de um mundo exterior ("não-eu"). Este é o "estado de vigília" ou "consciência-ego", onde a Unidade Universal (DEUS) permanece encoberta pela individualidade (ego) e dizemos: "eu sou isto", "isto é meu", "eu estou aqui", etc.

2. "Vida" ou "VIDA", para indicar o estado de Consciência Superior, apelidado "Reino de Deus" ou "Vida Eterna", pelo Senhor Jesus.

Quem aceita estas definições antagônicas, para a mesma palavra, compreende o sentido da aparentemente absurda frase do Grande Instrutor: "Quem perder a vida, por mim, achará a VIDA".

 

Todos acreditam precisar de mais dinheiro, de carro novo, de casa mais confortável, de mais amigos, de mais saúde, de mais diversões, etc., para a vida melhorar. Sem perceber, criamos mais fardos/obstáculos para nós mesmos. Então, não tem jeito: a vida é muito importante e, portanto, temos que nos esforçar para conseguir estas coisas. Contudo, se não dermos tanta importância à vida, tal como definida acima, podemos ser verdadeiramente felizes com quase nada. Este é o milagre: para a vida ser boa, basta nos livrarmos da terrivelmente forte ilusão de que precisamos vencer na (aproveitar a) vida, conquistar/gozar coisas. Se valorizássemos corretamente esta vida transitória, não investiríamos tempo e energia tentando vencer nela, tentando melhorá-la de acordo com os padrões materialistas, porque cedo ou tarde a morte vai nos tirar tudo o que nos custou suor/sangue para conquistar; ao contrário, concentraríamos nossos esforços na tarefa de vencê-la, para alcançarmos a Vida Eterna. Quanto mais nos esforçamos por melhorar a vida material, mais infernal ela se torna, pois esta ambição aumenta o desassossego da alma ("inferno" refere-se a uma condição da consciência individual, onde não há descanso/paz mental). Até mesmo atitudes simples e aparentemente inocentes, nos tornam mais suscetíveis aos altos/baixos da vida e nos enfraquecem. Exemplo: quem admira uma bela paisagem natural e se deixa encantar por ela, está acrescentando mais um tanto de valor ao mundo, isto é: está aumentando o poder que ele sutilmente exerce sobre nós. O caminho para a Libertação/Salvação, para a Paz/Felicidade, para a VIDA, é não deixar-se seduzir/derrotar pela vida, vencer o mundo, como ensinam e demonstram os Mensageiros do Altíssimo.

Nada neste mundo teria poder sobre nós; nada neste mundo poderia melhorar/piorar nossas vidas, se soubéssemos valorizá-las corretamente. Temos muitas necessidades/fraquezas/escravidões, por causa da supervalorização da vida. Precisamos de dinheiro, casas, carros e amigos, para tentarmos ser felizes, porque valorizamos demais estas coisas. O ouro terá valor, enquanto o acharmos valioso; no dia em que deixarmos de valorizar o ouro, ele nada valerá e não terá mais poder algum sobre nós... Esta é a grande lição do episódio em que Pôncio Pilatos tentou subjugar o Cristo, ameaçando-o: "Não percebes que tenho poder para te libertar ou para te crucificar?" (João, 19.10). Se Jesus desse, à vida, o mesmo valor que nós lhe damos, Ele teria se atirado ao chão e implorado para que não o matassem, e esta seria a maior derrota na história da humanidade. No entanto, Ele valorizava corretamente a vida e, por isto, não temeu a possibilidade da morte iminente, mostrando ao dominador romano que nenhum poder ele tinha sobre o aparente dominado; este, na verdade, foi o vencedor do confronto. O Grande Instrutor caminhou voluntariamente para o matadouro, para nos ensinar qual é o real valor da vida material. O Cordeiro de Deus entregou-Se às garras dos lobos, sem opor resistência, para benefício de todos nós. Terá sido em vão, o Seu sacrifício?

 

Muita gente diz que Jesus é único e que ninguém pode fazer o que Ele fez; no entanto, Ele nunca se apresentou como alguém superior/inalcançável, e disse a todos: "Venham e sigam-me". A história da humanidade registra muitos casos de homens/mulheres, que seguiram corajosamente os passos do Cristo, em direção à VIDA.

Na verdade, Seu sacrifício não foi em vão: o exemplo crístico ainda é tão poderoso quanto o foi, 2.000 anos atrás, e continua inspirando os homens a abrir mão da ("perder" a) vida, para encontrar a VIDA...

 

 

 

Senhor: faz de mim um instrumento de Tua Paz.

 

11/10/2011

 

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